As
atividades executadas nesse mundo colocam o indivíduo em contato com a roda de
samsara, palavra sânscrita que se refere ao ciclo ininterrupto de nascimentos e
mortes. Em outras palavras, sob o impulso das suas atividades piedosas ou
impiedosas, ele ora sobe a um planeta material superior, ora desce a um planeta
inferior, ora vem ao mundo numa família abastada, ora nasce numa família
carente, ora possui um corpo saudável e vigoroso, ora se vê às voltas de
enfermidades e moléstias. Seus prazeres e sofrimentos são de natureza tão
efêmera que podem ser comparados às experiências de uma criança tola que se diverte
num carrossel colorido.
Aquele que se deixa cativar pelo encanto da
poderosa energia ilusória busca desesperadamente por uma posição segura e
confortável e, como não se satisfaz com os recursos oferecidos por este
planeta, se lança no espaço, em direção à Lua, Marte, Vênus, etc. Mas, será que
existe algum planeta nesse mundo que seja imune às dores da velhice, da doença
e da morte? A resposta dada pela Bhagavad-gita é que a verdadeira felicidade,
segurança e conforto só serão encontrados além dos limites do Universo
material, pois as dores supramencionadas estão em qualquer canto desse mundo.
Ao entendermos isso entendemos também que a vida humana não se destina a
desfrute sensorial temporário, mas à autorrealização espiritual. Empenhar-se,
portanto, na autorrealização significa agir em harmonia com o princípio de
“tirar o melhor proveito de um mau negócio”, significa aceitar tão somente as
necessidades básicas da vida e não deixar que a energia humana seja desviada
para outros propósitos. Significa não estar interessado em fomentar ou se
envolver com coisas que serão esquecidas no decorrer do tempo e que, portanto,
não são diferentes dos murmúrios das ondas do mar. Significa entender
claramente que a meta deve ser restabelecer nossa relação com Deus, a qual foi
interrompida quando nos lançamos na roda de samsara. Em suma, quem se empenha
em autorrealização preza por vida simples e pensamento elevado, o que é muito
diferente de uma vida animalesca, sem cultura, educação ou moralidade. Na
verdade, num contexto de simplicidade e introspecção, a arte, a ciência, a
filosofia e tudo mais são muito benvindos, caso se prestarem para estimular o
reencontro com o divino. No passado, muitos dos verdadeiros artistas,
cientistas e filósofos não viveram em construções palacianas, mas, mesmo em
suas cabanas produziram imensos tesouros de sabedoria. Em outras palavras,
quando em demasia, os confortos materiais podem ser prejudiciais para o
progresso espiritual. A conclusão é que, através da simplificação da vida,
cria-se uma condição muito auspiciosa onde há uma grande reserva de energia
humana para ser utilizada na autorrealização espiritual.